Foi em Outubro de 2016, num impulso de fé, seguindo um instinto silencioso que se tornou inquietante, que me despedi do projeto anterior que tinha ajudado a criar, para iniciar outro. Com um horizonte cheio de incertezas pela frente, fortalecido pelo apoio da minha mulher, segui caminho à procura de algo que me chamava, mas que ainda não sabia bem o que era.
Chegado a este momento, ao revisitar e reviver o percurso que me levou até aqui, há quatro reflexões que gostaria de partilhar:
O MEDO
Fui e sou muitas vezes tentado a ficar quieto e preso pelo medo. O medo de arriscar, de mudar, de falhar, de não conseguir providenciar. Este medo que parece ser dirigido a todos e que nos tenta aprisionar se lhe dermos ouvidos, desde a economia, à política, à sociedade, às projeções do futuro que tendem a ter um tom catastrófico. Relativizar e superar este medo é, para mim, uma tarefa diária. Requer parar, contextualizar, discernir e, depois, após algum tempo, confiar! E mesmo que corra mal, que não se alcance o que se perspetivou, saímos do lugar onde estávamos, e a perspetiva muda com essa alteração; chegamos mais longe. É no caminho que sofremos, que aprendemos, que crescemos e que vivemos.
A PERSEVERANÇA
Ao longo deste percurso, houve momentos extremamente difíceis. Há sempre em percursos que se ousam a descobrir e a explorar a beleza do desconhecido. Acredito que a perseverança, presente em qualquer projeto empreendedor, é particularmente relevante na arquitetura. É a perseverança que marca a diferença entre a qualidade e a excelência, e é precisamente esta qualidade que procuro e que luto por fazer crescer no dia a dia do atelier, seja individual ou em equipa. A perseverança vem acompanhada de um ligeiro sentimento de insatisfação e, a combinação dos dois, permite ir um pouco mais além.
O AMOR
É com grande alegria que olho para estes 7 anos e vejo que foram inundados de amor. Amor pela arquitetura, pelo conhecimento, pelo serviço aos outros. Amor pela arte, pela partilha, pela construção de uma equipa. Amor pela vida, pela família e particularmente pela minha mulher, que me apoia em tudo o que faço, e que agora lidera este projeto ao meu lado.
A CONTEMPLAÇÃO
O número 7 é, para muitos, o símbolo da perfeição. Na história da criação, é no 7º dia que Deus descansa, não porque está cansado de tudo o que fez, mas para contemplar a Sua criação. Nas palavras sábias do Pe. Vasco Pinto Magalhães, “Só avança quem descansa”. Aprender a parar é talvez a maior dificuldade que tenho na minha vida. Mas quando me forço a parar, abro espaço para a contemplação. Contemplar a natureza, a beleza, o amor, o sofrimento, a dor, o trabalho, a arte, a vida. É nestes momentos que me situo no caminho, e que reúno ajuda para o continuar. Com estes 7 anos fecha um ciclo no atelier. Um ciclo de criação e crescimento. Estamos para ficar, e para iniciar outro ciclo, cheio de tudo o que caracterizou este que se fechou. Obrigado a todos os que participaram nestes 7 anos!
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