Se, por um lado, os planos curriculares das licenciaturas não contemplam disciplinas dedicadas à arquitetura sustentável, por outro, existe uma fraca/inexistente oferta de formação na área da sustentabilidade, na formação contínua dos profissionais. Como resultado, ficamos com uma classe pouco conhecedora de práticas de construção sustentáveis.
Os desafios da arquitetura sustentável em Portugal começam desde cedo, na formação de novos profissionais, mas também na definição do próprio conceito, que ultrapassa o uso de materiais sustentáveis.
De acordo com o Portal de Arquitetura e Construção Sustentável (PCS) , Portugal é um dos países da UE que regista uma taxa de qualificação na área da Sustentabilidade mais baixa, especialmente no setor da Arquitetura.
Se, por um lado, os planos curriculares das licenciaturas não contemplam disciplinas dedicadas à arquitetura sustentável, por outro, existe uma fraca/inexistente oferta de formação na área da sustentabilidade, na formação contínua dos profissionais. Como resultado, ficamos com uma classe pouco conhecedora de práticas de construção sustentáveis e, por consequência, com uma escassa aplicação destas práticas nos novos projetos que vão surgindo.
Claro que devemos compreender o conceito próprio de sustentabilidade assente em questões ambientais, sociais e económicas, para que não caiamos no erro de criarmos uma visão redutora da arquitetura sustentável
É claro que estes desafios não se prendem apenas com a arquitetura, mas são transversais a muitas outras áreas, onde podemos ver que a noção completa do termo de sustentabilidade ainda é pouco compreendida. Ainda assim, tem havido um crescimento do awareness sobre a sua importância, com empresas a dedicarem tempo e recursos à sustentabilidade nas mais variadas vertentes. Sendo este um tema atual, e para o qual a maior parte das pessoas está mais desperta, haverá, num futuro próximo, mais compreensão e mais oferta, no sentido de incluir a sustentabilidade no seu todo, no dia-a-dia e no top of mind de todos nós.
A arquitetura sustentável pode ser definida, de forma vaga, como a capacidade de criar projetos e construções com base num conjunto de princípios e regras próprias. Claro que devemos compreender o conceito próprio de sustentabilidade assente em questões ambientais, sociais e económicas, para que não caiamos no erro de criarmos uma visão redutora da arquitetura sustentável, apenas como algo verde e ambientalmente consciente. No caso do nosso atelier, podemos olhar para a estreita colaboração que temos com a associação CAuSA, focada precisamente nestes três pilares da sustentabilidade, com uma componente marcadamente social no objetivo da construção, mas também ambiental nos materiais utilizados e económica no seu todo.
Podemos falar de cortiça, por exemplo, que é um material de origem vegetal, impermeável, isolante térmico e acústico e resistente ao fogo, tornando-se, por isso, um material emergente na arquitetura. Mas a sua exploração desmedida poderá pôr em causa a própria produção, comprometer os ecossistemas e, tornar-se, por isso, insustentável.
Mas parece-me claro que a arquitetura sustentável, embora focada nestas três vertentes, desenvolve-se maioritariamente sobre o impacto no ambiente, tendo como principal preocupação a preservação deste. Se num extremo podemos olhar para construções que beneficiem da utilização de materiais locais e naturais, e de técnicas de construção diferenciadas; na outra ponta, vemos grandes edifícios construídos com foco no uso da tecnologia e de componentes ambientais como coberturas verdes.
Assim, para um projeto de arquitetura mais sustentável, a escolha dos materiais adequados é fundamental para um menor impacto ambiental. Mas o que são materiais sustentáveis? Pode ser um material considerado sustentável pela localização geográfica, para o uso particular, para o tipo concreto de construção e, finalmente, pela sua aplicação no próprio projeto.
Podemos falar de cortiça, por exemplo, que é um material de origem vegetal, impermeável, isolante térmico e acústico e resistente ao fogo, tornando-se, por isso, um material emergente na arquitetura. Portugal, sendo responsável por cerca de metade da produção mundial de cortiça, pode posicionar-se devidamente para a utilização deste material em projetos mais sustentáveis. Ainda assim, a sua exploração desmedida poderá pôr em causa a própria produção, comprometer os ecossistemas e, tornar-se, por isso, insustentável.
Compreendemos assim que é necessário ter em conta toda a cadeia de valor do material sem esquecer os restantes pilares da sustentabilidade, o que dificulta a sua correta e total implementação em projetos. Mas não é por isso que devemos deixar de tentar e de valorizar o conceito no seu todo. A importância da sustentabilidade veio para ficar, pelo que é urgente dedicarmo-nos mais ao tema, desde o início, na formação, até ao fim, na implementação.
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